13 de fev. de 2015

Natureza como tema prioritário em educação: Educar é cuidar - texto de Miliane Tahira

Natureza como tema prioritário em educação: Educar é cuidar 
                                                                                             Por: Miliane Tahira


Começo esse texto com uma afirmação existente nas correntes mais atuais em educação infantil que cuidar é educar já que nessa fase do desenvolvimento da criança, sobretudo do zero aos três anos de idade, todo o processo de formação passa pelas suas necessidades vitais, sendo o corpo a principal forma de vinculá-la ao mundo e desenvolver a noção de si e do outro.
Mas aqui trago uma ampliação do cuidar é educar para o educar é cuidar, no sentido de que, se não trabalharmos a indissociabilidade dos sistemas culturais e naturais em nossas escolas, estamos fadados a desaparecer enquanto espécie.
Sim!!!! 
Por mais alarmista que essa afirmação possa parecer, o culto ao racionalismo e a dito antropocentrismo levou o homem ao desvio de não se reconhecer como parte do todo natural e estabelecer com a natureza uma relação de esfoliação que vem trazendo consequências nefastas, em que apenas o capital é destacado. 
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil destacam  essa necessidade, assim como a Política Nacional de Educação Ambiental (lei nº9.795/99).
Mas não basta apenas documentar, há que se ter mudanças efetivas de atitude, passando pelo exemplo Institucional, pelo Projeto Político-Pedagógico nas escolas e efetivação metodológica. Além de intencionalizar uma mudança de consciência que atinja as gerações futuras, há que se mobilizar famílias e comunidades estando essas inseridas nas propostas pedagógicas organizadas pelo corpo docente.
Tiriba(2010) traz importantes reflexões, constatações e propostas para que a educação ambiental seja trabalhada nas Escolas de Educação Infantil como uma verdadeira política transformativa, inclusiva e transdisciplinar.
Inicialmente aponta para a necessidade de que sejam trabalhados, além dos conteúdos culturais e de convivência humana, os conteúdos de cuidado com a terra, possibilitando que o aluno perceba-se como parte intrínseca desse ecossistema.
As Escolas precisam desemparedar, ou seja, proporcionar aulas para além dos seus muros, fazendo com que a criança conviva com o ambiente natural de forma a estabelecer relações entre seu corpo e tudo que está ao redor , e não apenas de forma racional e classificatória.
A autora baseia-se nas DCNEI(2010) e mostra-se propositiva quanto a ações eficazes que baseiam-se em três objetivos centrais.
1) Religar as crianças com a natureza
2) Reinventar os caminhos de conhecer
3) Dizer não ao consumismo e ao desperdício
Esses três objetivos só podem ser alcançados se entendermos que há que se fazer uma prática pedagógica em que a criança possa interagir com tudo que está ao seu redor.Além da interação social, que é  a mais comum, deverá haver também uma interação com o ambiente natural: vegetação, animas, frutos, sombra, tudo que está interrelacionado com o ambiente em que está interagindo e, principalmente, estar em pleno estado de percepção, em que seu corpo possa estar experimentando livremente os sentidos trazidos por essas experiências sensoriais.
Nesse sentido Educar é cuidar: cuidar de si, cuidar do outro, cuidar do ambiente cultural e natural, cuidar da qualidade das experiências que possibilitamos para que os educandos possam continuar encantando-se com o mundo e com a sua vida que é inteiramente relacionada com tudo que está a sua volta.
Esse saber é transdisciplinar, pois envolve todos os conhecimentos que estamos acostumados a trabalhar: biologia, geografia, história, artes, sociologia, estando na linguagem e na matemática que envolve todo um conteúdo espacial, de formas e relações.
Educar é cuidar para que não se perca o sentido da existência humana, muito mais existencial do que operacional.
Educar é cuidar para que não se perca em compensações materiais e utilitárias tornando o existir um vazio em que a natureza é negada e esfoliada.
Para isso há que se levar em conta as três ecologias apontadas por Tiriba(2007), a ecologia pessoal em que é estabelecida a relação consigo mesmo - corpo,inconsciente, emoções, espiritualidade. A ecologia social que traz as relações humanas e a qualidade destas, e a ecologia ambiental que trata da relação estabelecida entre seres humanos e natureza.
Urge que pais e educadores estejam conscientes de suas ações relacionais com seus filhos e as experiências que ligam essas três ecologias fortalecendo o real sentido de estar vivo e  que se cuide desse solo sagrado, pois cuidar da terra é cuidar da VIDA e da nossa existência individual, coletiva, natural e social.                        

Ecopoesia
                                                          
O sangue que corre nas minhas veias são cinzas de estrelas já mortas e a química das minhas emoções é o sal de antigos oceanos. 
Se sou o verso do universo em expansão, as minhas necessidades não são as necessidades do planeta? 
Os direitos do planeta não são os meus direitos? ( Tássio Revelat)


Miliane de Lemos Vieira (Tahira) 
(Mestre em Educação - UFBA/Psicóloga, Psicomotricista e Professora de Danças árabes)


                                                                             








Um comentário:

  1. Texto muito interessante, muito coerente com o surpreendente discurso de Fidel Castro, que tornou-se uma das principais (talvez a principal) comunicações na Rio 92.
    A poesia de Tássio complementa excelentemente o texto.

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